“Ela acreditava em anjo e,
porque acreditava, eles existiam.”
Clarice Lispector
- Boa noite, durma
com os anjos!
Uma frase bastante comum na minha infância, quando minha mãe
se despedia de mim, na hora de dormir.
E, no resgate dessa lembrança, associada a alguns novos
conhecimentos, me disponho a falar sobre algo que envolve nossos hábitos e que
podem ser realizados 'no piloto automático' ou com consciência.
Quando minha mãe se despedia de mim, na hora de dormir, ela
transmitia que ali se encerrava um ciclo, e que dormir com os anjos me
prepararia para o novo ciclo no amanhecer.
Ao dormir, nossa alma se distancia de nosso corpo físico e
se envolve com outras questões. Quais questões ? O que determina isso ? Posso
dizer que, quanto mais consciência tivermos desse processo, mais claro isso se
torna.
Temos o tempo de acordar e o tempo de dormir. Isso implica
na necessidade que temos de realizar um descanso, certo? E, talvez a pausa
precise ser considerada também num outro sentido, ou seja, o que estamos
pausando mesmo ?! E de que modo?
Dado o conhecimento de que somos seres espirituais
encarnados, quando estaremos descansando? No tempo acordado ou no tempo
dormindo?
'Alguém' por aí já disse: Nem só de pão vive o ser humano.
Pois é, esse ser que sabia das coisas, revelou numa simples frase que não é
apenas importante alimentar e cuidar do corpo físico, que precisamos de outras
coisas para nos sentirmos nutridos.
"A gente não quer só comida, a gente quer comida,
diversão e arte..." é uma resposta que, na atualidade, se aproxima um
pouco mais do vislumbre de outras instâncias.
Em seu livro 'Teosofia', R.
Steiner diz:
Assim como não conhecemos inteiramente uma pessoa quando só
temos uma ideia de sua aparência física, tampouco podemos conhecer o mundo que
nos cerca quando só sabemos dele o que nos revelam nossos sentidos físicos.
(...)
Nós só podemos compreender totalmente o mundo físico ao
discernirmos seu fundamento anímico e espiritual.
Reconhecendo que além de corpo, temos também alma e
espírito,
Vamos voltar a refletir sobre o sono, e o que pode acontecer
entre estes três universos que compõe nossa existência terrena, enquanto seres
humanos.
O que se passa quando dormimos ?
O sono se revela como portal de acesso ao mundo espiritual.
Nossa organização anímica se distancia desta realidade para se deparar com
outras vivências, e através delas se abastecer para continuar sua existência
com mais orientação, de acordo com seus próprios valores. Nessa esfera, nossa
alma pode se desfazer do lixo acumulado, pode se nutrir, pode recolher
orientação, pode rever seus passos e redirecionar determinadas escolhas.
No sono, a alma, ao acessar as esferas espirituais, pode se
reconectar com seu propósito de vida, na Terra. Para isso, precisamos nos
preparar para o sono.
E se, quando criança, absorvi essa orientação, também fiz
assim com minha filha, e ao acompanhá-la para o adormecer, contava uma bela
história, depois trazia o verso da noite, e assim ela podia embarcar para uma
boa noite de sono. Uma amiga, contou, dia desses, que sua mãe antes de dormir,
enfatizando a importância de uma conexão com o plano espiritual e a preparação
para o sono, lhe dizia: "Não somos bichos, somos seres humanos. Bichos, se
deitam e dormem, nós precisamos fazer contato com nosso anjo da guarda através
de uma oração, para entrarmos no mundo do sono." É como nosso 'Olá!' para
ele, "vim te visitar".
Como podemos dar nosso 'Olá!' para o plano espiritual, quando
adultos ? podemos repassar a nossa própria história, a história do dia que
acabamos de vivenciar, em retrospectiva, e colher os aprendizados, nos
confrontarmos com as vivências inadequadas, enfim, separar o joio do trigo.
Isso ativa nossa consciência para atravessar o portal do sono, e praticamente
orienta, a partir das nossas reflexões, o encaminhamento das nossas vivências
para as esferas mais sutis.
A partir disso, podemos colher, mais direta e ou
conscientemente, a orientação que precisamos.
E na manhã seguinte, ao despertar, antes de nos levantarmos,
podemos nos deter por uns instantes, para recolher as lembranças, seja por meio
de uma imagem que nos salta, ou uma palavra, ou uma sensação. A intuição que
surge é um anúncio do plano espiritual, a sensação que desperta pode ser um
tema a ser investigado.
A partir dessas práticas diárias, vamos nos conectando com a
nossa essência, e a partir dela, nossa consciência se amplia.
Quando entramos mais em nós mesmos? Quando, dentro do sentimento geral
da vida, percebemos o que sempre temos como nossa consciência na condição de
vigília; quando percebemos quem somos; quando nos experimentamos interiormente;
quando sentimos quem somos nós. (GA-199 - R. Steiner)
Não só durma com os anjos, mantenha-se em conexão com eles
durante todo o seu dia. Assim, teremos o
mundo espiritual mais presente.
Olivia Gonzalez
Aconselhadora biográfica, terapeuta corporal e terapeuta
floral
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